19 de março de 2014

Procura-se emprego: Vivo ou morto

Você, cidadão do bem, que paga seus impostos e contas em dia. Que ajuda o velhinho a atravessar a rua, e o cego a entrar no vagão do metrô. Que não ultrapassa a faixa amarela entre o trem e a plataforma, que espera as pessoas saírem antes de entrar, que não senta no banco preferencial. (Ok, se você for um cidadão do bem, estudante e cansado igual a mim, às vezes você pode sentar no banco preferencial e fingir que dormiu. Alias, na maioria das vezes, nem é preciso fingir, a gente REALMENTE DORME.)

Chega uma hora em que você se pega na situação de desempregado. E se você ainda não passou por isso, calma. TUA HORA VAI CHEGAR. Eu sei, é triste. Principalmente se você for um relés mortal estudante de comunicação pobre. (uepa!).

No início você até tem esperanças e dispara currículos para empresas de grande porte na esperança de um cargo bacana. Mas nada acontece, ninguém liga pra entrevista (afinal de contas, quem és tu neste mundo? Um estudante ou recém formado de merda).  Os meses passam, você gastou todo seu dinheiro em sites de empregos pago. Você começa a se candidatar em vagas que não é beeeem o que queria, mas tá bom vai...

Nada acontece. TU CONTINUA NA RUA DA MARGURA.

- Me dá um MC Oferta, por favor.

Os meses se seguem, e você passa a enviar currículos para qualquer vaga que aparecer. Você nem repara, inclusive, que se candidatou a uma vaga em Piraporinha, quando na verdade você nem mora lá.
Quando finalmente você é chamado para uma entrevista, você está tão desesperado que fica nervoso e gagueja tudo.
Agora você está se candidatando para vaga de fazer cafezinho. Quem sabe alguém não descobre seu talento enquanto você enche a garrafa? Vai que. A esperança é realmente a última que morre.

Aceita trabalhar de finais de semana?
(x) sim
Aceita trabalhar com conteúdo adulto?
(x) sim
Aceita viajar a trabalho?
(x) sim
Aceita trabalhar de madrugada?
(x) sim

Você tá naquele momento que aceita tudo. É a fase mais deprimente.
- Tem carro próprio?
- Tenho. – Você mente. Mas há coisas que não dá pra mentir, né?

- E por que você gostaria de trabalhar nesta empresa?

E você, de saco cheio desta pergunta cretina, pensa:

“PRECISO DE DINHEIRO! Não comprei ração pro meu gatinho e ele morreu de fome.”

E responde:
- Meu sonho é trabalhar aqui.

Você se posiciona como se fosse o super-homem. Sabe tudo. Tudo que lhe perguntam você sabe.
- Sabe mexer com HTML?
- Opa! Sei sim. [e seu coração bate de desespero.]
- Sabe falar alemão?
- Yes. Quer dizer... Ja!

Tudo para não perder aquela vaga de emprego. Você se pergunta por que tanta dedicação para uma vaga de salário de merda. Mas, fazer o quê? Melhor isso que nada.

- Me dá uma esfiha do habbi’bs.






E você repara que naquela dinâmica, onde há 30 pessoas para uma vaga, todos, EXCETO VOCÊ, possuem experiências maravilhosas e são fodasticos. E você se pergunta “O que este cara está fazendo aqui nesta vaga de salário de merda se ele é tão fodastico?”. Obviamente, o cara fodastico com experiências maravilhosas pega tua vaga com salário de merda, e você continua sem emprego e claro, sem experiência. 

- Me da uma coxinha com catupiry.
- R$4,50.
- 4,50? E sem catupiry?
- Sem catupiry é 3,00.
- Então sem catupiry, por favor.



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A obra Seja Feliz Com a Carol-ol-ol de Carolina Hanke foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Brasil.
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